24 de abril de 2017

Como um designer soluciona problemas? O (meu) pensamento do design

Os teóricos do design publicaram extensa literatura sobre a metodologia diferenciada do design, com seus passos e abordagens características, mas pouco se atendo aos mecanismos e motivações que operam esses métodos descritos. São poucas as reflexões sobre algumas características indispensáveis no trabalho do designer, como o de decidir diante de incertezas, geradas por um grande número de variáveis e tendo de atuar dentro de uma lógica nebulosa, utilizando apenas da intuição e o coração como bússola. O designer, como gerador de soluções inovadoras e muitas vezes radicais, não opera com elementos de decisão mensuráveis e infalíveis. Criar algo que até então não existia, leva para o campo do desconhecido, das incertezas e de erros necessários. A intuição é uma característica pouco confiável para muitos e mesmo temerária para engenheiros e tecnólogos, mas vital no design.
Quanto a capacidade de um bom designer de conceber sempre soluções que além de apropriadas e inovadora são surpreendentes, muitos confundem com talento. Para mim o talento é a capacidade de obter bons resultados como consequência de três qualidades : uma autoestima elevada, uma atitude disposta a correr riscos e sua cultura como base para seus processos criativos. Nós designers criamos novas realidades e contribuímos para definir parte de nossa cultura material. Porém, é nos detalhes desse processo de criação que começam as diferenças, que embora possam parecer sutis, fornecem a chave para a compreensão desse mecanismo mental que considero o meu pensamento do design. O bom designer não se contenta em solucionar pragmaticamente um problema. Busca uma solução que surpreenda e encante. Através da beleza e do valor simbólico, marca seu lugar no tempo e no espaço. Soma-se a essas habilidades a capacidade de decodificar repertórios culturais, que quanto mais amplos forem maiores são as possibilidades de combinar informação e com isso criar inovações radicais.
As primeiras perguntas que sempre fiz foram: Para quem, e por que, vou projetar? Aprendi que quem projeta para si próprio é o artista; o publicitário para o consumidor; o arquiteto para seu cliente e o designer para o “usuário” de seu produto ou serviço. Entender as necessidades, desejos e aspirações dos atuais e futuros usuários não são tarefas triviais. Exigem tempo, informação, sensibilidade e intuição. Todo designer começa por fazer perguntas que ainda não foram feitas. Visita mentalmente situações, soluções e lugares onde ninguém ainda esteve. Somente assim surgem as coisas verdadeiramente novas e com elas a surpresa e o encantamento. Este processo não usual de abordagem de um problema é fruto do pensamento que acima de tudo questiona e interroga e evita sempre o caminho do meio, que é a opção pela mediocridade.
Os designers mais conscientes sabem que os produtos são nossos cúmplices e exprimem o estilo de vida que adotamos. Por essa razão e por princípio ético não devemos nos eximir de nossa responsabilidade política, pois ao projetar estamos fazendo uma afirmação sobre nossas convicções, sobre o tipo de sociedade e de futuro que aspiramos. Contudo, aquilo que as pessoas desejam varia no tempo e nos lugares, mas esses desejos e anseios não podem comprometer as necessidades das gerações futuras. Isso nos cobra uma visão de longo prazo em oposição ao imediatismo, pautado pelo consumo efêmero.
A principal característica do meu pensamento do design talvez seja a assimetria, ou não linearidade na abordagem dos problemas. A linearidade pressupõe um processo de melhoria da qualidade de um serviço ou produto de modo incremental, com modificações ou acréscimos sucessivos sobre um padrão existente. Com isso conseguimos apenas mudanças incrementais. O pensamento assimétrico, essencial nos problemas de maior complexidade, é aquele que permite visualizar soluções revolucionárias. O pensamento assimétrico busca analisar e vivenciar simultaneamente situações diferentes que se cruzam, convergem ou divergem. Essa assimetria permite visualizar novas possibilidades através de caminhos ainda não trilhados, estimulando e propiciando abordagens não convencionais como principio gerador de novas ideias. Distingue-se por oposição do pensamento linear, racional e previsível.Um designer, consciente que o todo é a soma das partes, começa por enfocar o todo e não uma parte de algo que não esta mais operando satisfatoriamente.
Um designer é também um decodificador de sinais e mensagens, que apontam as mudanças comportamentais da sociedade, propondo um futuro diferente do passado. O ser humano é o ponto focal e dele partem as exigências que devem orientar a busca de soluções. São as interfaces existentes entre o individuo e seu ambiente, sejam físicas ou visuais, que definem o campo operativo do designer.
Hoje vejo o design não mais como uma área do conhecimento, ou uma carreira profissional. Vejo o design como uma atitude diante da vida. Fazer melhor, sempre e tudo. De modo inovador e surpreendente. Não repetindo caminhos trilhados. Olhando para o futuro e pensando naqueles que nele irão viver.

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